14 de nov. de 2011

Você tem o direito de não amar uma mulher


"Eu também faço parte do grupo dos fracos, imbecis, endividados e viciados em remédios para dormir"

Um belo dia, uma amiga fala de mim para esse senhor. Algo como “a Tati é legal”. Esse senhor me manda uma mensagem pelo Facebook dizendo ser muito amigo da amiga em comum e, simpático, elogia meus textos. Poxa, é um senhor simpático, amigo de uma amiga, interessado pelo meu trabalho, não vou ser escrota e não aceitá-lo em meu Facebook. Esse senhor me convida para jantar. Veja, gosto de rapazes da minha idade ou de senhores que se parecem com rapazes da minha idade. Esse senhor é careca e velho. Não quero nada com ele. Digo “Poxa, vamos deixar para ano que vem… caso seja bissexto” com simpatia na primeira, na segunda e na terceira vezes. Na quarta, mando um “Não quero jantar com você”. Ele então me escreve uma longa mensagem na qual me chama de:

1) metida,

2) arrogante,

3) nojenta,

4) escrota.

Deleto esse senhor do meu Facebook. E me recordo dos últimos 200 rapazes que se comportaram igualmente psicopatas e ridículos ao receber um “Não, obrigada” de minha pessoa. Penso em escrever um texto detonando essas espécies abomináveis que não sabem perder. Mas eis que me recordo de também fazer parte do grupo “paulistanos-publicitários-infantilizados-problemáticos” que não sabem perder. Estamos aos montes por aí — nos barzinhos modernetes da pesada, ganhando dinheiro para vender historinhas de merda que fazem os bancos emocionarem donas de casa, viajando a Paris pra passar só três dias apenas porque deu em nossas telhas. Somos fracos, imbecis, endividados e viciados em remédio pra dormir. Em agosto do ano passado, conheci esse rapaz lindo. Depois de um mês e quatro dias, ele me chutou. Com dignidade: me levou para jantar e discursou sobre sua incapacidade de amar — ainda mais uma mulher maravilhosa e incrível como eu. Também fui digna. Somente ouvi tudo e fui pra casa.Desde então, porém, ao encontrá-lo em festas, reuniões ou redes sociais, sempre dou um jeito de comunicá-lo sobre sua ignorância em não me querer. Se não me queria, para que dizer todas aquelas coisas fofas? Se não me queria, por que tantas juras de amor e conchinhas e quentinhos e trocas e momentos lindos? E isso e aquilo e mais um pouco. Hoje em dia, ele, com razão, muda de calçada ao me ver. Não tem nada mais deprê do que cobrar sentimentos do outro. Dá mesmo raiva quando alguém não gosta da gente, mas querer que a pessoa também sinta raiva de si mesma por não gostar da gente é doença. O desgraçado tem o direito de não gostar de mim, assim como tenho o direito de não curtir o tio careca. No entanto, no fundo, bem no fundo, uma vozinha grita: “Direito o cacete! Não sou uma tia careca. Sou legal, bonita!” E quase tenho de me controlar pra não largar este texto na metade e ligar pra dizer que o desgraçado é:

1) metido,

2) arrogante,

3) nojento,

4) escroto.

Com tantas evoluções espirituais, científicas, psiquiátricas, físicas e econômicas, só ficamos mais egocêntricos e infelizes. A verdade é:

1) tio careca, você é um babaca de pensar que eu tenho a obrigação de gostar de você;
2) rapaz que me deu um fora em agosto do ano passado, você é um babaca por não gostar de mim;
3) pelo menos na babaquice, fazemos um belo triângulo amoroso.

Tati Bernadi

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