O que se crê não se cria”
Tony Bellotto / Arnaldo Antunes
me.do ( lat metu) 1. Perturbação resultante da idéia de um perigo real ou aparente ou da presença de alguma coisa estranha ou perigosa; pavor, susto, terror. 2 Apreensão. 3 Receio de ofender, de causar algum mal, de ser desagradável. sm pl Gestos ou visagens que causam susto.
Quem só se deparou com alguma situação de perigo palpável tem uma idéia vaga e global do que seja o medo. Agora, o medo, no sentido psicológico da coisa, vai muito além do conceito acima descrito pelo Dicionário Michaellis. Quanto mais pessoas você conhece, quanto mais você SE conhece, quanto mais você experimenta o mundo, percebe que o medo pode estar presente não só quando você está dentro de um avião que passa por uma zona de turbulência ou quando está caminhando sozinho numa rua escura e erma à noite. O medo vai muito além (ou aquém disso).
As pessoas têm fobias peculiares, particulares e intrigantes que nem sempre são compreendidas pelos outros. Enquanto uns têm fobia de cobras (o que é perfeitamente natural), outros podem ter medo de... borboletas!!! “Ah, mas a borboleta não te faz nada, a cobra pode te matar. Isso é frescura!!!”. Esse é o primeiro raciocínio que viria à mente das pessoas, certo? Certo. Mas completamente errado. O medo não se dá somente por uma situação periclitante. O medo rola por motivos que a psicologia não explica direito. No caso da borboleta, não é um medo palpável. É algo quase que inexplicável mas que não deve jamais ser confundido com frescura.
Tenho uma amiga que tem essa fobia. Parece até engraçado. Ainda mais pela situação. Ela estava no Gates (NR: “famoso pub de Brasília apertado, escuro, mas sempre com muita música legal, festinhas e eventualmente showzinhos”), no meio de uma festa na última sexta-feira, com a pista de dança lotada. E ela olhava, como que hipnotizada, para a tal borboleta que pousava no Globo. Não conseguia ficar tranqüila ainda que (ou até por isso) a pouca luminosidade deixasse o pequeno inseto completamente imperceptível aos olhos dos mortais. Repito: dos mortais. Porque as pessoas que têm medo de coisas “inofensivas” criam um mundo na cabeça delas que não adianta explicar nem entender e muito menos julgar. Exatamente como na letra da música dos Titãs que abre esse texto (“o que se vê não se via”). Basta respeitar. Se a pessoa tem uma peculiaridade freak, você deve ter outras tantas.
Outra amiga tem medo de cavalos e de situações de confusão. É algo que vai além da claustrofobia. Não precisa entender nem tentar explicar. Mas quando a pessoa fica em pânico nessas situações, não adianta querer bancar o psicólogo.Tem que entrar no mundo da pessoa e deixar ela lidar com aquilo. Não há o que se fazer.
Tenho uma ex-namorada que tinha síndrome do pânico. Uma vez, do nada, ela começou a chorar e desfaleceu na minha frente. Desmaiou. E eu não soube o que fazer. A bichinha apagou e aí EU FIQUEI EM PÂNICO. Só não foi pior porque ela tinha me dito várias vezes antes, na maior tranqüilidade: “Olha, se eu desmaiar por aí e ter uma convulsão, não liga não. É normal. É só esperar que eu volto ao normal rapidinho, ta?”. Ah, bom!!! E o medo dela no caso era do quê? Sei lá, de nada!!! Mas a pessoa fica.... com medo!!! Como diz no dicionário acima... “perturbação resultante da idéia de um perigo aparente”. Ainda que inexistente.
Eu mesmo tenho um pânico de altura que não foi superado nem pulando de um bungy jumping de 138m de altura (o segundo maior do mundo) na Nova Zelândia. É seguro? É. Você sabe que não vai morrer, que ninguém nunca morreu lá? Sabe. Mas, mesmo assim, no dia em que eu pulei, das dez pessoas que iam pular, três chegaram lá em cima, olharam para baixo e tiveram vertigens que as impediram de pular. Os caras simplesmente não conseguiam pular. Tem explicação lógica, racional? Não. Talvez a mente diga “pode pular”, mas o corpo responda “tá maluco, mermão? Eu não pulo aí neeeeeeeeeeem fodendo!!!”.
Medo de rato. Medo de barata. Medo de passarinho. Medo de elevador. Medo de água. Medo do escuro (que o Iron Maiden genialmente descreveu em “Fear Of The Dark”, quando diz “Eu tenho um medo constante de que exista sempre algo por perto”). Enfim, medo de tudo. De qualquer coisa. Quanta gente não anda de carro nas estradas brasileiras e morre de medo de avião? Agora vejam o número de acidentes de carro e comparem-nos com os de avião? Claro que morre muito mais gente no asfalto. Mas não adianta. Isso é o argumento racional. E o medo não é racional.
Retirado de : http://www.totalmentesemnocao.com.br/2005/11/medo-ou-frescura.html
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